Òrìsà Òlóògúnèdé / Lògún Edé / Lògúnédè

 


"Erinlè teria tido, com Òsún Ypóndà, tem um filho chamado Òlóògúnèdé (Logunedé), cujo culto se faz ainda, mas raramente, em Ilesá, onde parece estar em vias de extinção."
"No Brasil, principalmente na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, Lògún Edè tem, entretanto, numerosos adeptos. Esse deus tem por particularidade viver seis meses do ano sobre a terra, comendo caça, e os outros seis meses, sob as águas de um rio, comendo peixe. Esse deus, segundo se conta na África, tem aversão por roupas vermelhas ou marrons. Nenhum dos seus adeptos ousaria utilizar essas cores no seu vestuário. O azul-turquesa, entretanto parece ter sua aprovação. É sincretizado na Bahia com São Expedi-to."
Hoje, na Nigéria, a mais rica cidade chama-se Ilesa, e é a cidade de Òlóògúnèdé, que para muitos é metade homem e metade mulher, o que não é verdade. Lògún Edè é um santo único, um Òrìsà rico que herdou tanto a beleza e agilidade do pai quanto a beleza e riqueza da mãe. Em Ilesa, uma das cidades mais prósperas da África, encontra-se o palácio de Lògún Edè.

 

Diz a Lendas
A mãe criadora

Conta à lenda que Òsún teve uma grande paixão na sua vida: Òsóòsì, mais na época era casada com Ògún e não podia ter nada com Òsóòsì. Numa das saídas de Ògún para guerrear, Òsún encontrou Òsóòsì  e dele ela engravidou. Nove meses depois, quando a criança estava para nascer, Ògún mandou recado que estava regressando. Òsún não podia mostrar a ela a criança. Ela deu a luz a um menino e o pôs em cima de um lírio e ali o deixou e foi embora. Oyà (Iansã) passando viu aquela criança e sabia que era de Òsún, pegou e criou Lògún Edè. Oyà o ensinou a caçar e pescar. Lògún Edè viveu com Oyà durante muito tempo.

O reencontro
Certo dia Lògún Ede saiu para caçar. Quando estava no topo de uma cachoeira, olhou para baixo e viu uma linda mulher sentada nas pedras, tomando banho e se penteando. Ele ficou fascinado pela beleza desta mulher. Aí ele desceu e ficou olhando-a escondido. Òsún com seu àbébè (espelhinho) viu que havia um homem a observando. Virou o àbébè para ele. Neste momento Òlóògúnèdé se encantou e caiu nas águas em forma de cavalo marinho. Oyà quando soube, correu atrás de Òsún e disse a ela que aquele menino que ela havia encantado era seu filho: Òlóògúnèdé, que um dia ela havia deixado em cima de um lírio. Òsún desfez o encantamento e disse que a partir daquele dia Òlóògúnèdé viveria seis meses na terra como o pai, comendo da caça e seis meses viveria como a mãe, comendo do peixe.

Fascínio
Òlóògúnèdé, o menino caçador, andava pelos matos quando um certo dia, passando pela beira do rio Alaketu, ele viu no meio do rio um palácio muito bonito. Voltou para sua cidade, relatou a beleza deste palácio e sua vontade de ir até lá. Disseram a ele que era o palácio de Òsún, Lugar em que nenhum ho-mem punha os pés. Passou-se o tempo e Òlóògúnèdé não encontrava um meio de ir até lá. Um certo dia encontrou sua mãe de criação, Oyà, que lhe confirmou que no palácio de Òsún nenhum homem punha os pés e ele só conseguiria entrar se vestisse como mulher.
Òlóògúnèdé fascinado e obcecado pelo palácio pediu a Oyà que lhe arrumasse os trajes adequados. Depois de arrumado, pegou sua jangada e se pôs no rio a caminho de palácio. Chegando em terra can-tou: Alaketo-ê Ala Ni Mala Ala Ni Mala okê.
Este oro foi cantando em saudação às águas e pedia permissão à dona do palácio para sua entrada. Abriram-se os portões e Lògún Edè entrou e no meio das mulheres Òsún reconheceu seu filho. Disse que a partir daquele dia Lògún Edè usaria saia, que lhe daria o direito de reinar ao seu lado.

O belo
Òlóògúnèdé era filho de Òsún e Òsóòsì. Sem poder viver no palácio de Òsún, foi criado por Oyà na beira do rio. Òsóòsì seu pai, era demasiado rude e não conseguia conviver com o filho, sumindo por longo tempo em suas caçadas. Òlóògúnèdé, afeiçoado pela mãe, vez por outra ia ao palácio de Sòngó, onde Òsún vivia. Lògún Edè vestia-se de mulher, pois Sòngó era ciumento e não permitia a entrada de homens em sua morada. Assim, Òlóògúnèdé passava dias e dias vestido de mulher, mas na companhia de sua mãe e das outras rainhas.
Um dia houve uma grande festa no Òrún (céu) à qual todos os Òrìsàs compareceram com seus melhores trajes. Òlóògúnèdé, que vivia na beira do rio a caçar e pescar não possuía trajes belos. Foi então que  vestiu-se com as roupas que Òsún lhe dera para disfarçar-se e com elas foi à grande recepção.
Ao chegar, todos ficaram admirados com a beleza de Lògún Edè, e perguntavam: "Quem é esta formosura tão parecida com Òsún?". Ifá, muito curioso, chegou perto do rapaz e levantou o filá que cobria seu rosto. Lògún Edè ficou desesperado e saiu da festa correndo, com medo que todos descobrissem sua farsa. Entrou na floresta correndo e foi avistado por Òsóòsì que o seguiu, sem reconhecê-lo, encantado com sua beleza. Òlóògúnèdé, de tanto correr fugindo à perseguição do caçador, caiu cansado. Òsóòsì então atirou-se sobre ele e possuiu-o ali mesmo.

 

Amado por Òsóòsì e Òsún
Estava Òsóòsì o rei da caça a caminhar por um lindo bosque em companhia de sua amada esposa Òsún, dona da beleza da riqueza e portadora dos segredos da maternidade. Quando de seu passeio, foi avistado por Òsún um lindo menino que estava a beira do caminho a chorar, encontrando-se perdido, Òsún de pronto agrado, acolheu e amparou o garoto, onde surgiu nesse exato momento uma grande identificação, entre ele, Òsún e Òsóòsì.
Durante muitos anos Òsún e Òsóòsì, cuidaram e protegeram-lhe, sendo que, Òsún procurou durante todo esse tempo a mãe do menino, porém sem sucesso, resolveu tê-lo como próprio filho. O tempo foi pas-sando e Òsóòsì, vestiu o menino com roupas de caça e ornamentou-o com pele de animais, proveniente de suas caçadas. Ensinou a arte da caça, de como manejar e empunhar o arco e a flecha ensinou os princípios da confraternidade para com as pessoas e o dom do plantio e da colheita, ensinou a ser audaz e a ter paciência, a arte e a leveza, a astúcia e a destreza, provenientes de um verdadeiro caçador. Òsún por sua vez, ensinou ao garoto o dom da beleza, o dom da elegância e da vaidade, ensinou a arte da feitiçaria, o poder da sedução, a viver e sobreviver sobre o mundo das águas doces ensinou seus segredos e mistérios.
Òlóògúnèdé foi batizado por sua mãe e por seu pai como, o príncipe das matas e o caçador sobre as águas. Viveu durante anos sobre a proteção de pai e mãe, tornando-se um só, aprendendo a ser homem, justo e bondoso, herdando a riqueza de Òsún e a fartura de Òsóòsì, adquirindo princípios de um e princí-pios de outro, tornando-se herdeiro até nos dias de hoje de tudo que seu pai Òsóòsì carrega e sua mãe Òsún leva.

Òsún Yponda e Erinlè
Um dia Òsún Ypondà conheceu o caçador Erinlé e por ele se apaixonou perdidamente. Mas Erinlé não quis saber de Òsún. Òsún não desistiu e procurou um Bàbáláwò. Ele disse que Erinlé só se sintia atraído pelas mulheres da floresta, nunca pelas do rio. Òsún pagou o Bàbáláwò e arquitetou um plano: Embebeu seu corpo em mel e rolou pelo chão da mata. Agora sim, disfarçada de mulher da mata, procurou de novo seu amor.
Erinlé se apaixonou por ela no momento em que a viu. Esquecendo-se das palavras do adivinho, Ypondà convidou Erinlé para um banho no rio. Mas as águas lavaram o mel de seu corpo e as folhas do disfarce se desprenderam. Erinlé percebeu imediatamente como tinha sido enganado e abandonou Òsún para sempre. Foi-se embora sem olhar para trás. Òsún estava grávida; deu à luz a Lògún Edè.
Lògún Edè é a metade Òsún, a metade rio, E é metade Erinlé, a metade mato. Suas metades nunca podem se encontrar. Ele habita em tempo o rio e noutro o mato. Com o Ofá, arco e flecha que herdou do pai, ele caça. No abebé, espelho que recebeu da mãe, ele se admira.