Òrìsà Òsòwúsì / Òsòósì / Ode 

 

O filho de Òsóòsì apresenta arquetipicamente às características atribuídas do Òrìsà. Representa as o homem impondo sua marca sobre o mundo selvagem, nele intervindo para sobreviver, mas sem alterá-lo. Ao contrário de Ògún que cria a metalurgia e precede à indústria, Òsóòsì desconhece a agricultura, não muda o solo para nele plantar, apenas recolhe o que pode ser imediatamente consumido, a caça. É, portanto, o princípio inicial da civilização, representa a forma mais arcaica de intervenção do homem em relação ao mundo que o cerca.

No tipo psicológico a ele identificado o resultado dessa atividade é o conceito de forte independência e de extrema capacidade de ruptura, o afastar-se de casa e da aldeia para embrenhar-se na mata a fim de caçar. Além disso, a ruptura está presente em todas as lendas, seja no afastamento dos preceitos religiosos como no da mãe, Yemójà. Seus filhos, portanto, são aqueles em que a vida apresenta forte necessidade de independência e de rompimento dos laços.

A solidão como prazer vem do seu interesse por atividades que exigem concentração e silêncio. Nada pior do que um ruído para afastar a caça, alertar os animais da proximidade do caçador. Assim os filhos de Òsóòsì trazem em seu inconsciente o gosto pelo ficar calado, a necessidade do silêncio e de desenvolver a observação, tão importantes para seu Òrìsà.

Geralmente Òsóòsì é associado às pessoas joviais rápidas e espertas, tanto mentais como fisicamente. A postura física é a de um caçador à espreita na floresta, evitando fazer barulho e de olhos e ouvidos extremamente atentos ao movimento da caça. Tem, portanto, grande capacidade de concentração e de atenção, aliada à firme determinação de alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento correto para agir.

Essas características reforçam as afinidades entre Òsóòsì e Ògún. Assim como este, seu corpo é esguio, atento e pronto para o combate, mas sua luta é baseada na necessidade de sobrevivência e não no desejo de expansão e conquista. Busca a alimentação, o que pode ser entendido como sua luta no dia a dia. É, por isso o Òrìsà das pessoas mais presas ao cotidiano do que aos grandes rompantes das ações militares ou heróicas. Ògún é a divindade dos heróis, enquanto Òsóòsì é a do homem comum.

Esse Òrìsà é o guia dos que não sonham muito. Tem a força de Ògún, mas sua violência, ao contrário da daquele, é canalizada e represada para o movimento certo no momento exato. Não tem o temperamento incontrolável de Ògún nem suas alterações drásticas de humor. É basicamente reservado, guardando quase que exclusivamente para si seus comentários e sensações, sendo muito discreto quanto ao seu próprio humor e disposição.

Os filhos de Òsóòsì, portanto, não gostam de fazer julgamento sobre os outros, respeitando como sagrado o espaço individual de cada um. Buscam preferencialmente trabalhos e funções que possam ser desempenhados de maneira independente, sem ajuda nem participação de muita gente, não gostando do trabalho em equipe. Ao, mesmo tempo é marcado por um forte sentido de dever e uma grande noção de responsabilidade. Afinal, é sobre ele que recai o peso do sustento da tribo.

Essa é a base para a forte ligação com o mundo material, que não deve ser confundida com ambição comum a todos os filhos de Òsóòsì. Eles tendem a assumir responsabilidades e a organizar facilmente o sustento do seu grupo ou família. Podem ser paternais nessa preocupação, mas sua ajuda se realizará preferencialmente distante do lar, trazendo as provisões ou trabalhando para que elas possam ser compradas, e não no contato intimo com cada membro da família, já que compartilham com os filhos de Ògún certa incapacidade de ser fixar num mesmo lugar. Não é estranho que quem tem Òsóòsì como Òrìsà de cabeça relute em manter casamentos ou mesmo relacionamentos emocionais muito estáveis. Quando isso acontece, dão preferência as pessoas igualmente independentes já que o conceito de casal para ele é o da soma temporária de duas individualidades que nunca se misturam.

Os filhos de Òsóòsì não compartilham com os de Ògún o gosto pela camaradagem, pela conversa que não termina mais, pelas reuniões ruidosas e tipicamente alegres, fator que pode ser radicalmente modificado pelo seu segundo Òrìsà (o ajunto): ampliado por Òsónyìn ou Iròkó, por exemplo, ou atenuado e diluído por Oyà ou Òsún. Não são pessoas tipicamente extrovertidas, gostando de viver sozinho, preferindo receber grupos limitados de amigos, como o caçador que, de vez em quando, compartilha comum outro caçador o seu almoço, troca histórias e informações, mas depois segue caçando sozinho. É, portanto, os tipos coerentes com as pessoas que lidam bem com a realidade material, sonham pouco, tem os pés ligados a terra e possuem alguma dificuldade em se comunicar, em lidar emocionalmente com os outros seres humanos, já que seu equilíbrio só existe facilmente na solidão. Isso acontece porque, mesmo sendo um bom observador do comportamento humano - podendo antecipar atitudes e descobrir o que há de lúcido e repetitivo no jeito de cada um se comportar - o filho de Òsóòsì tem pouca paciência com as sutilezas da diplomacia. Cansa-se facilmente das pessoas, de suas necessidades complexas, que ele poderá identificar como caprichos. Não aceita facilmente que nem todos possuam seu código simplista e austero de vida. Não é impossível que um filho de Òsóòsì tenha, no fundo, medo do ser humano em geral, pois miticamente seu Òrìsà se afastou dos homens, passando mais tempo com os bichos e se entendendo melhor com eles, mesmo que os caçasse por alimentar outros homens.

Fisicamente, os filhos de Òsóòsì tendem a serem relativamente magros menos musculosos que os guerreiros filhos de Ògún ou encorpados como os filhos de Sòngó. Por outro lado, possuem mais flexibilidade e facilidade de movimentação e controle sobre cada parte do corpo. Tendem a ser potencialmente nervosos, mas possuidores daquele tipo de tensão represada, mantida com certa dificuldade, até que explode uma única vez, atingindo o adversário no ponto mais fraco, que havia sido pacientemente visualizado no processo de preparação do bote. Possuem mãos delgadas, finas extremamente expressivas.

Seus olhos são vivos e atentos, seus passos extremamente leves como do caçador que não quer provocar ruído. Sua movimentação tem certa graça e leveza, numa harmonia advinda da economia de movimentos. Podem, porém, ser mais vaidosos e requintados em circunstâncias específicas, como festas ou acontecimentos sociais em geral,como se o caçador pudesse ser rude ao trabalhar na mata,mas exigisse ser reconhecido como alguém de destaque nos raros momentos que passava na sociedade dos homens.

 

 

O QUE DIZ A LENDA

Uma lenda de origem de Òsóòsì atribui seu surgimento como personagem importante em meio a uma crise. Era então rei de Ifé, a cidade estado sagrado dos iorubas, Olofin, figura mítica que em diversas lendas. Numa festa de comemoração da época de colheita o que indica a lenda é bem posterior ao inicio do culto a Òsóòsì, que remonta à pré-história surgiu um pássaro gigantesco que, cobrindo o palácio e o centro da cidade, impedia a realização da importante cerimônia.

Para livrar-se de tão gigantesco estorvo, os governantes chamaram hábeis e famosos arqueiros, mas nenhum deles logrou sequer ferir o animal. Entre eles, Òsòtógún, o caçador das vinte flechas, e Òsótóji, o caçador das quarenta flechas. Apesar de tal profusão de setas, nenhum deles, usando todas, consegui nada, até que chegou Òsòtókánsósó, o caçador de uma flecha só. Sua mãe sabia que a punição pelo fracasso seria a morte. Consultando imediatamente um Bàbálwaó, este lhe indicou que precisava oferecer às divindades uma galinha ou, de acordo com algumas versões, devia oferecer o animal às feiticeiras, que teriam criado unido o grande pássaro numa fase de grande rivalidade com os outros homens. De qualquer forma, o sacrifício deu certo, pois o caçador logrou matar o grande pássaro. A população começou a gritar: o caçador Òsò é popular! ou seja, Òsò wusi, que redundou no nome a partir daí usado pelo caçador. O rei das florestas.