Òrìsà Yemòja / Yemanja / Iemanja

 

No arquétipo psicológico expandem-se as características insinuadas pela descrição dos mitos e das lendas de Yemòjà. Também ai fica fácil entender os conceitos principais se mantiver-mos a comparação com a Òrìsà Òsún. Como os filhos da mãe da água doce, os de Yemòjà também gostam do luxo das jóias caras e dos tecidos vistosos. Gostam de viver num ambiente confortável e, mesmo quando pobres pode-se notar certa sofisticação em suas casas, se comparadas com as demais da comunidade de que fazem parte.
Não possuem, porém, a mesma vaidade coquete de Òsún, sempre aparentando umas idades maiores, mais responsáveis e decididos eu os filhos da Òrìsà da água doce.
Enquanto os filhos de Òsún são diplomatas e sinuosos, os de Yemòjà se mostram mais diretos. São capazes de fazer chantagens emocionais, mas nunca diabólicas. Fazem mais aquele tipo de chantagem de mãe, quase sempre exagerando uma verdade, sem ter a mesma intimidade com a mentira ou a dissimulação que possuem os filhos de Òsún. A força e a determinação fazem parte de seus caracteres básicos, assim como o sentido da amizade e do companheirismo. Não enxergam a vida como uma luta, como os filhos de Ògún ou de Yànsán, mas como uma jornada, uma travessia longa, difícil, mas que pode ser prazerosa e é inevitável. Têm nesse sentido, a mesma maturidade do adulto Sàngó em oposição aos jovens Ògún, Òsóòsì, Òsún etc.
Como são pessoas presas ao arquétipo da mãe, família e os filhos têm grande importância na vida dos filhos de Yemòjà. A relação com eles pode ser carinhosa, mas nunca esquecendo conceitos tradicionais como respeito e principalmente hierarquia. Ai fica mais clara sua diferença com os filhos de Òsún, menos voltados para a família e mais dedicados a eles mesmos, quase sempre tendo uma vida mais individualizada que os filhos de Yemòjà, estes em geral estão presentes nas famílias grandes gostando do envolvimento com problemas dos irmãos, pais, tios, etc.
São pessoas que não gostam de viver sozinhas, sentem falta da tribo, inconsciente ancestral, e costumam, por isso, casar ou associar-se cedo, desejando sempre uma prole numerosa. Não gostam dos empregos competitivos, que encarem a vida e o dia-a-dia como campo de batalha, preferindo aqueles que possam desenvolver com calma e, se possível, em casa, próximo dos filhos e dos parentes.
Não apreciam as viagens, detestam os hotéis, preferindo casas onda rapidamente possam repetir os mecanismos e os quase ritos que fazem parte do cotidiano. Não são, portanto, fascinados pelas vidas sociais, preferindo reuniões com poucas pessoas, preferencialmente caseiras. Além disso, são bons gourmet, o que reforça a idéia de que preferem um pequeno jantar com um circulo restrito a uma festa colorida e badalada.
Apesar do gosto pelo luxo, não são pessoas realmente ambiciosas nem obcecadas pela própria carreira. Detêm-se mais na repetição diária, sem grandes planos para atividades em longo prazo, a não ser quando se trata do futuro de filhos e entes próximos. Gostam de ensinar, sendo comum a existência de professores cujo Eledá seja Yemòjà, pois, nessa profissão, estão repetindo, exatamente, a função socializadora do Òrìsà perante a família dos deuses.
Todos esses dados nos apresentam uma figura um pouco rígida, refratária a mudanças, apreciadora do cotidiano. Ao mesmo tempo, indicam alguém doce, carinhoso, sentimentalmente envolvente e com grande capacidade de empatia com os problemas e sentimentos dos outros. Mas nem tudo são qualidades em Yemòjà, como em nenhum Òrìsà. Seu caráter pode levar o filho desse Òrìsà a ter uma tend6encia a tentar concentrar a vida dos que o cercam.
Seria a repetição do costume da matriarca de influenciar o destino dos filhos, agregados de todos que estariam em seu lar sob sua responsabilidade repetindo frases tão comuns às mães.
Os filhos de Yemòjà demoram muito para confiar em alguém bons conhecedores que são da natureza humana. Quando, finalmente, passam a aceitar uma pessoa no seu verdadeiro e intimo circulo de amigos, porém deixam de ter restrições, aceitando-a completamente e defendendo-a, seja nos erros como nos acer-tos, tendo grande capacidade de perdoar as pequenas falhas humanas. Como, porém gostam de mandar ou pelo menos de fazer a cabeça dos que o cercam quando há alguma resistência, o filho de Yemòjà pode inconscientemente colocar-se em guarda em relação à pessoa.
Assim, quando esta pessoa comete posteriormente uma falha ou uma ofensa ao filho de Yemòjà, raramente será perdoada. Da mesma, forma que sabe esquecer os problemas com rapidez, um filho de Yemòjà também pode torna-se rancoroso, remoendo questões antigas por anos e anos sem e aquecê-las jamais. Fisicamente, existe certa tendência para a formação de uma figura arredondada um pouco gorda.
Mesmo as pessoas que forem magras, quando possuem Yemòjà como Òrìsà de cabeça, podem ganhar quilos em pouquíssimo tempo, engodando por qualquer coisinha. Isso acontece porque tendem a reter demais a água no corpo, podendo eventualmente apresentar problemas nos rins por causa disso.
Ao mesmo tempo, adoram doces e gostos em geral. Podem ter uma sensualidade um pouco reprimida à clássica mãe é quase uma figura assexuada na maior parte das sociedades têm o paladar muito desenvolvido, não sendo raro que se notem verdadeiros glutões entre os fiéis de Yemòjà.
Um olhar calmo, mesmo que permanentemente escondendo a tendência a repentes de irritabilidade está sempre presente. Nas mulheres é possível que os seios sejam grandes ou precocemente caídos. Nos homens, o peito costuma ser um pouco saliente. Se trabalhado em ginástica, pode evitar a tendência de se transformar num dos pontos de acúmulo de gordura. A passividade geral e o pouco gosto pela atividade física mais forte, aliás, são fatores cúmplices da facilidade que Yemòjà dá a seus filhos de engordar. Seu humor tende a ser suave, complacente, mas os filhos de Yemòjà podem facilmente se irritar quando criticados ou quando sua autoridade exercida de forma discreta e aparentemente suave é questionada, correspondendo mais uma vez à imagem da mãe carinhosa, mas exigente, amorosa, mas controladora. São pessoas que se dedicam completamente aos outros, o que tanto pode ser muito agradável como fonte de conflitos, pois da mesma forma que se deram vão também cobrar o retorno do afeto empenhado – o que é comumente um dos pontos de conflito entre mães e filhos.

 

O QUE DIZ A LENDA
As lendas de Yemòjà estão espalhadas por toda a coleção, já que envolvem a maioria dos Òrìsàs, seus filhos.
Uma das versões de sua transformação em rio que vai parar no mar envolve o cisma com Òsóòsì, aqui citado e melhor explicitado no volume dedicado ao Òrìsà da caça. Outra delas menciona a fuga de Yemòjà de um marido que a maltratava. O nome dele varia de acordo com as narrativas, sendo o mais comum Okere. Uma versão, escolhida por Pierre Verger, dá contornos mais poéticos e esses acontecimentos. Yemòjà teria tido seu choro transformado em torrente. Através do rio em que se transforma, Yemòjà buscava atingir o mar, morada de seu pai OloKun enquanto Verger, ao contrário da maioria apresenta Olokum como figura feminina, a grande deusa primordial do mar, sendo, portanto, a mãe de Yemòjà. Okere estava arrependido e queria manter Yemòjà com ele. Como seus rogos e pedidos não eram atendidos, a teimosia e o orgulho foram dominando-o, incitando Okere a um comportamento obstinado.
Tal foi sua emoção em barrar o caminho de Yemójà que conseguiu transformar-se numa montanha e existe na África o monte Okere até hoje. Ele cortou o caminho de Yemòjá obrigando o rio a se represar, impedindo-o de seguir na busca do mar. Yemójà então clamou por Sàngo. O òrisà da justiça tinha de intervir a seu favor, já que ela tinha direito de deixar Okere porque eu ele havia quebrado as regras de seu pacto nupcial e criticado Yemójà Sàngó aceitou os argumentos da mãe da água salgada, dizendo que de agora em diante Yemójà ia encontrar uma passagem para deixar suas águas correrem e alcançar o mar. Acompanhando a forma poética da versão colhida por Verger,temos que Sàngó desfez todos os nós que prendiam as amarras da chuva. Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia também apareceram nuvens da direita e da esquerda do dia. Quando todas elas estavam reunidas chegou Sàngó com seu raio. Ouviu-se então Kakara rá rá rá.Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere. Ela abriu-se em duas e suichchchchch. Yemòjà foi-se para o mar de sua mãe Òlókùn. Ai ficou e recusa-se, desde então, a voltar à terra.