Òrìsà Òsáàlá / Òsólùfòn / Òsógyìan 

 

Òsàlà, o pai e o chefe das divindades do candomblé são, portanto, uma figura extremamente complexa; Obàtálá, Odùduwà, Ifá e outros personagens míticos são manifestações ou qualidades de Òsàlà, cuja característica distintiva é serem brancos. São os Òrìsàs  funfun (branco), da criação, os outros na verdade não são propriamente, Òrìsà mas, já é habito no candomblé designar igualmente por este nome as outras divindades. Òsàlà (Deus) cuja existência remonta às origens do mundo, filho de Òlorún, é casado com Nàná, a esposa mais velha e menos amada que as vezes é conside-rada apenas amante, e com Yemójà, a esposa mais jovem e preferida. Òsàlà é isto como o pai de todas as outras divindades. Òsàlà é o deus da criação governa os elementos primordiais: o “ar”, a “água”, a “terra”. Nele associam-se as idéias da massa de ar primitivas de onde tudo se originou, da unidade fecundante que nasceu do sopro dessa massa de ar, da abóbada celeste, metade superior da cabaça que figura a matriz cósmica representada por Obàtálá, e também, a idéia da terra e das águas que a cobriam nos começos, representadas por Odùduwá.
Obàtálá é o próprio principio masculino, associado a idéia de fecundação, de sopro, do poder criador do verbo; Odùduwá é o principio feminino, associado à idéia de gestação,ao mar, à terra. Como estas duas divindades africanas são, no Brasil, qualidades de Òsàlà, este último é as vezes definido como hermafrodita; outros dizem que é o do sexo feminino durante seis meses e do sexo masculino durante os outros seis. Òsàlà representa o céu e, por extensão, o ar puro e frio assimilando assim um dos atributos do antigo Olorún que tende a identificar-se com o deus do catolicismo.
Òsàlà reúne a idéia da criação do mundo mineral, inorgânico, ligada a Odùduwá, e a da criação da vida e da fertilidade da terra que se exprime no culto dos inhames.
A cerimônia do pilão que repete a distribuição de comida que celebrou a reconciliação de Odùduwá e de Obátàlá ou segundo outra versão, o banquete oferecido por Òsógyìan, para festejar a volta do pai, Òsólufòn. O inhame é triturado e servido no pilão de Òsàgìyán. Esta festa antigamente chamada festa dos inhames novos, celebra o recomeço do ciclo vital. Osàlá representa igualmente a idéia da criação dos seres vivos, animais e homens do mundo sobrenatural o Òrún, cujos duplos se encarnam na terra, é, pois, do mundo sobrenatural que o nosso mundo recebe a vida. Em sua qualidade de Deus da criação Òsàlà preside, portanto, à formação de novos seres no além e neste mundo; preside à fecundação e à gestação, à passagem da existência.
Indiferenciada, no mundo sobrenatural á existência individualizada neste mundo que consiste no nascimento, e à passagem inversa que consiste na morte; está igualmente presente, pois nos ritos fúnebres, no asésé, quando o ser humano perde sua individualidade e retorna à matéria indiferenciada dos elementos primordiais. Presidem da mesma forma os ritos de iniciação que constituem uma morte e um nascimento simbólicos em que a ordem natural destas duas passagens é invertida.
No barco de ìyawò, Òsàlà, no candomblé, não se faz matança às sextas-feiras. Òsàlà, sendo quem molda o ser humano, è tido por responsável pelos defeitos físicos que estão claramente relacionados à criação; as crianças que nascem defeitos físicos, ou seja, com a massa ossia comprometida são lhe consagradas. Mas os defeitos físicos também pode ser castigo com o qual Òsàlà pune quem o ofendeu. Quem incorre na cólera de Òsàlà, podem acabar cego, caolho, estropiados, manco Irritar Òsàlà pode ter conseqüências ainda piores pois ele pode condenar o culpado à destruição total, privá-lo da sobrevivência parcial no além e da possibilidade de renascer. A vingança de Òsàlà è terrível e a mais temida de todas.
Reunindo em si as figuras de Òdùduwa que criou a terra e o àiyé, e de Obátàlá, que criou a vida no além e na terra, associando o governo dos três elementos fundamentais, o ar, a água e a terra, Òsàlà nos aparece como anterior a raiz dos elementos e força diferenciados da natureza, o mar a floresta, o trovão, anterior ainda á separação dos sexos. Ele é o cosmos, a origem de tudo. Foi Òsàlà, na qualidade de Òbàtálá, quem moldou na argila o ser humano, deu-lhe um nariz para respirar, olhos para ver, uma boca, para  comunicar ouvidos ouvir, deu-lhe enfim um rosto e uma personalidade.
Entretanto Eléèmi é quem lhe deu o sopro vital. A cor branca, que contém as cores, exprime a idéia do ser indiferenciado e imóvel; é representados pelo àlá, o grande pano branco que esconde o mistério da vida e da morte, que cobre Òsàlà, e o corpo das ìyàwo durante a iniciação. Como Deus da criação Òsàlà e onipresente o branco de Òsàlà está presente em todo ritual, em todo peji, em toda comida de santo que deve incluir invariavelmente o egbo (canjica) de milho de Òsàlà.
Òsàlà é, portanto um deus branco, o deus funfun; o povo de santo diz é um deus árabe que atravessou o deserto para fundar a nação yorùbá, nação na qual se fundem a idéia do branco da criação, a idéia da raça branca como raça superior que estaria na origem do povo yorùba, e a idéia do herói mítico Odùduwá que veio de leste para fundar Ifé.Tudo que é de Òsàlà é branco; tudo que lhe é oferecido; animais, comidas, flores deve ser branco e imaculado. Seus filhos devem vestir-se de branco no dia que lhe é consagrado, a sexta-feira; todos no candomblé sejam qual for o seu santo, e inclusive os outros Òrìsàs quando se manifestam, devem vestir-se de branco. Por ser Oxalá o deus funfún, quem é albino é considerado no candomblé como filho dele. Òsàlà é a autoridade suprema, sua vontade é inapelável sua palavra definitiva. Por essa razão não se “olha” às sextas-férias pois este dia sendo dele, se o resultado fosse desfavorável, não haveria mais para quem apelar. Quem é filho de Òsàlà não pode recorrer a mais ninguém. Òsàlà é concebido como muito velho, a idade avançada exprimindo sua posição no candomblé. Corpo cansando lento move-se com muita dificuldade associa-se à idéia de repouso, de imobilidade. Dança curvado, apoiando-se no seu òpásóró, treme de frio e de velhice.
Relaciona-se com as árvores associadas à origem da vida em particular, o irokó, o akóko, a palmeira, cujos troncos majestosos unem nosso mundo e o além. Os troncos destas árvores nas quais dizem que residem os espíritos, representam os antepassados masculinos. No dia do pilão, a cerimônia das varas de atòri lembra esta relação de Òsàlà com a árvore.
Tocando as filhas com a vara Òsàlà comunica-lhes asé, força, vitalidade, fecundidade. Òsàlà é o dono da palavra, foi ele quem deu a palavra ao homem, e a sua própria palavra é tão poderosa que se torna imediatamente realidade. A criação do mundo procede do verbo, e a palavra humana adquire poder porque procede de Deus, porque é a reprodução da palavra primordial, ela não é apenas logo, instrumento de comunicação, ela é atuante desencadeia forças, carrega asé, a força que anima o universo e permite a existência das coisas, está, portanto estreitamente relacionada com a vida e a fecundidade. Devido a este poder da palavra Òsàlà, está associado ao silêncio; a palavra deve ser controlada. Durante o ciclo das festas de Òsàlà não se deve falar, a procissão das águas de Òsàlà deve realizar-se em silêncio. Oxalá gosta de tranqüilidade e de silêncio. Òsàlà detesta violência, disputas, brigas. É uma divindade “fria”, evita tudo o que é excitante, sua comida é sem sal e sem azeite de dendê.
Òsàlà odeia as cores fortes, em particular o vermelho, odeia a guerra e o sangue; tem horror ao sangue menstrual ou do parto e quando filhas estão menstruadas, ele não se manifesta. Entretanto, no ritual da iniciação, as ìyàwo devem usar na testa uma pena vermelha do papagaio da costa, o Ekòdídè, sem o qual Oxalá não as reconhece como suas filhas. O vermelho é a cor da vida, com efeito, e sem ela nada poderia existir.
Como já vimos a figura de Ifá, incorporada a Òsàlà, faz deste último a divindade da ordem do universo e do destino. Seu número é o dezesseis, ó número dos “fundamentos” que exprime o princípio da dualidade, do equilíbrio. Òsàlà gosta da ordem, de limpeza, de pureza: É uma divindade muito delicada, está sempre com frio, e qualquer sujeira incomoda.
Sua importância se exprime no ritual por uma inversão da ordem da genealogia mítica. O mais velho e o mais poderoso dos Òrìsàs não são saudados no siré, mas somente no final da festa enquanto que Esú, o mais novo, é invocado antes de todos os outros.
Òsàlà é assentado numa sopeira de porcelana branca sem tampa e recoberta pelo àlá, são tampados apenas os assentos dos Òsàlà  individuais de seus filhos. O otá de Òsàlà é uns seixos brancos transparente, colocados na sopeira junto com uma pulseira de chumbo, dezesseis búzios, moedas de prata òri (manteiga vegetal), efun (giz), ìgbín (caracóis), com água e outras substanciam e recobertos de algodão branco.
Trata-se aqui do assento do Òrìsà o conteúdo dos assentamentos individuais varia em função da qualidade e de cada caso particular, sendo determinado, em última instância pelo oráculo; é o santo quem decide: “quero ser assentado, deste ou do outro jeito”.
O dia do òsé de Òsàlà é sexta-feira, ele recebe nesse dia geralmente egbo (milho cozido) branco sem azeite e sem sal.
Nas obrigações maiores, ele recebe habitualmente uma cabra ou uma pata, galinhas brancas, pombas, os animais devem ser branco e do sexo feminino. As comidas secas que acompanham podem ser egbo, farofa branca, massa de Inhame, éko (milho branco ralado e cozido). O uso do sal e do azeite de dendê é proibido nas comidas de Òsàlà. Este Òrìsà gosta de variedades de melão chamadas ègusì e e irí dele são o côco, o obi branco, (noz de cola). Òsàlà ainda aprecia o órì, e o ádin, óleo tirada da amêndoa do côco do dendezeiro, e que servem para preparar seus pratos.
Seu animal predileto é o carocol (igbin) notável por sua lentidão, associado a umidade, à saliva, ao esperma e ao frio diz o povo de santo que o caracol, ígbìn, é o cavalo de Òsàlà. Quanto a quantidade Òsógyìan, pode-se fazer para ele um Bòrí de peixe de bagre (“peixe de pele”) em particular quando a pessoa está morre-não-morre”. O peixe é proibido a  Òmolú  e Òsóòsì.
Pertencem a Òsàlà os metais e outras substâncias brancas: A prata, o chumbo, o estanho, o giz utilizado em particular nos ritos de iniciação. Do reino vegetal, pertencem essencialmente a Òsalá o algodão, o ori, o àdín. De origem animal, o marfim também é de Òsálà. Além do caracol, outros, animais lhe são consagrados: o coquem, que Nana pintou com suas próprias mãos para compensá-lo de sua boa educação e que ela dedicou a Òsálà é freqüentemente utilizado nos sacrifícios, porém não nos de Òsálà, o pato, que Sòngó ofereceu a Òsàlà, em um animal que carrega muito asé; Òsàlà também são o Martim-pescador e o preá.
Nem Òsàlà nem seus filhos devem tomar vinho cachaça ou qualquer outra bebida que contenha álcool, pois, é por, ter violado esta proibição que Obátálá, grande beberrão, dormiu e não conseguiu cumprir a missão que Olorùm lhe havia confiado. O azeite de dendê é igualmente proibido tanto á Òsàlà como a seus filhos. Os filhos deste Òrìsà devem obrigatoriamente vestir-se de branco nas sextas-feiras e abster-se completamente de relações sexuais nesse dia. Os filhos de Òsàlà levam como orúko, nomes iniciando pelo termo òwin, tais como ìwin-dipe (Òsàlà com ele me consola), ìwín-bíyíí (Òsálà o fez nascer).
Quando Òsàlà se manifesta, o que é raro, ele é saudado pela assistência com a saudação “Epa Babá” Òsàlà veste-se exclusivamente de branco, Òsálúfón leva uma coroa de metal prateado ou um adé, o dia de uma das rainhas, e se apóia no seu Òpásóró feito de uma longa vara de metal prateado de pouco menos de um metro e meio de altura, na qual estão inseridos, quatro pratinhos circulares de diversas dimensões, dos quais ficam dependurados pequenos sinos e moedas, a extremidade da vara é enfeitada, por uma pequena pomba de metal prateada. O Ópásóró evoca o tronco das árvores que unem o mundo dos vivos e o alem e representa o poder do princípio masculino.
Quanto à Òsógyìan ele usa couraça, capangas, e leva na cabeça um capacete ou as vezes um simples fila, um escudo e uma espada ou um ou um pilão completam este equipamento. Algumas qualidades de Òsálà têm quizila de roupa, há uma, por exemplo, que só pode usar tafetá se for sentido horizontal. O colar de Òsàlà é feito de contas de porcelana branca, pode levar dezesseis firmas, igualmente brancas è proibido o uso de contas de cor e de firmas de outras divindades. Mas o colar de Òsàlà pega marfim, e no caso de Òsógyìan é permitido enfeita-lo com segui, pedra semi-preciosa azul claro.
Òsàlà dança quebrando o corpo, flexionado os joelhos. Os ritmos Kétu usados para Òsàlà são o toque guerreiro conhecido pelo nome de ajagun, que serve para Òsógyìan, oìgbín, (tambor de Obàtála), o toque bata, Òsálà dança também os ritmos ijesa.
Òsàlà representa um tipo humano benévolo e paternal, é sábio calmo, paciente e tolerante. Não se irrita facilmente, mas, suas decisões são irrevogáveis. O tipo Òsàlà é lento, frio, fechado, obstinado, age em silêncio. Aprecia acima, de tudo a tranqüilidade e a ordem, e mostrar-se em tudo bastante conservador.
Mas Òsàlà, como vimos, é múltiplo, e o tipo correspondente não apresenta unidade. Dizem que dele há dezesseis formas, este número, naturalmente é teórico. É possível reagrupar, porém os diversos tipos de Òsàlà em cinco categorias:
O tipo Obàtálá, que praticamente se confunde com o tipo Osalúfón, Orixá Òkin. Orixá ifuru (ou Osafuru, ou Baba Furu) Orisá Olúwofin, Orisá Egin, Orixá jágé Baba ajale, Orisá Lulu.
O tipo Odùduwá, o tipo Ifá, o tipo Òsógyìan, que pouco difere de Orixá Kire ou ( Ikire), e de Òrìsà Popo. O tipo Òrìsàko, que dificilmente se distingue do tipo Baba Lejugbe (ou ijube ) e de eteko ou Òrìsà eteko.
Examinarei sucessivamente casa um destes grupos, será impossível, porém, mesmo procedendo desta forma e reunindo as qualidades em classes evitar certas repetições, pois cada uma das qualidades retém alguns traços do Òrìsà geral.